A Morte de Charles Kirk: Terrorismo Estocástico e a Morte do Ultimo Direitista Moderado
- O Vanguarda

- 16 de set.
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Atualizado: 18 de set.
Em 10 de setembro de 2025, na véspera do memorial dos atentados às Torres Gêmeas, episódio que lançou os Estados Unidos a um estado policial e desencadeou a chamada 'guerra ao terrorismo mundial', instaurando uma nova ordem global, um novo acontecimento viria a chocar o mundo. Charlie Kirk, uma das figuras mais proeminentes do conservadorismo norte-americano, foi assassinado enquanto discursava em um evento na Utah Valley University, na cidade de Orem, estado de Utah, coração da América. Essa violência não é, de forma alguma, uma novidade.
No dia 13 de julho de 2025, completou-se um ano do atentado sofrido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante um comício na Pensilvânia. À época, em pleno período de campanha para as eleições presidenciais de 2024, o republicano foi surpreendido por uma bala que atingiu a parte superior de sua orelha direita enquanto discursava no palanque e acertando fatalmente uma pessoa da plateia.
Em 6 de setembro de 2018, durante um comício em Juiz de Fora, Minas Gerais, o então candidato à presidência Jair Bolsonaro foi esfaqueado por Adélio Bispo de Oliveira. O episódio marcou a intensa polarização política no Brasil e gerou comoção internacional.
Principalmente após a morte de Kirk, diferente dos outros casos as respostas foram inúmeras, sobretudo vindas da direita, que se revelou com um raro lapso de radicalismo. Nikolas Ferreira, o candidato mais votado de Minas Gerais, chegou a afirmar que a direita deveria se tornar 'a extrema-direita que eles tanto temem'. Tal declaração gerou êxtase nas alas da alt-right brasileira, sempre ávidas que seus representantes demonstrassem um pouco mais de radicalismo. Naturalmente, tudo parece um grande blefe, mas é necessária uma análise mais aprofundada para compreender o que levou a direita tradicionalmente inerte do país a reagir de forma tão alardeante diante do episódio. De todo modo, a janela de Overton tem proporcionado a possibilidade de debates possivelmente frutíferos.
A Construção da Direita como política do ódio e o Terrorismo estocástico
Para entender esse fenômeno é necessário primeiro entender como que a esquerda montou durante anos uma imagem sobre o que era a Direita como o grande inimigo fascista.
O impulso para uma análise psicológica da direita, incluindo noções de moralidade tradicional hoje consideradas latentemente "fascistas", teve sua gênese na Escola de Teoria Crítica de Frankfurt. Com a ascensão de Hitler, seus membros migraram em massa para os Estados Unidos, sob os auspícios da Universidade de Columbia, onde restabeleceram, em Nova York, o Instituto de Pesquisa Social. O estudo seminal produzido por este corpo intelectual, liderado por Theodor Adorno, foi A Personalidade Autoritária, investigação psicológica que buscava demonstrar, por intermédio de análise estatística fundamentada na Escala "F" (Fascismo), que os valores tradicionais de moralidade exigiam reorientação psicológica, por constituírem manifestações de um "fascismo" latente. Nesse enquadramento, a família patriarcal foi particularmente criticada, apontada como a instituição primordial na incubação dessa mentalidade "fascista".
Enquanto certos intelectuais de matiz esquerdista se consagravam à demonstração da psicopatologia imanente aos valores conservadores, paralelamente consolidava-se uma empreitada epistemológica destinada a normativizar os princípios axiológicos da esquerda, concebidos como instrumentos de emancipação do sujeito frente às constrições repressivas que engendram e perpetuam neuroses. Emergia, assim, a necessidade imperativa da instauração de um "Estado terapêutico", alicerçado nas doutrinas freudiano-marxistas, cujo escopo consistia na reeducação sistemática das massas e na reconfiguração psíquica de suas predisposições cognitivas, mediada por políticas estatais deliberadas e rigorosamente calculadas. A omissão diante dessa prerrogativa, advertiam seus proponentes, configuraria o terreno propício ao resurgimento inexorável do fascismo latente, concebido como fenômeno estrutural e não meramente contingente.
No contexto brasileiro, é possível observar a aplicação dessa perspectiva à política nacional. Um dos maiores expoentes dessa visão contemporânea é Márcia Tiburi, cujas obras Como Dialogar com um Fascista e Como Derrotar o Turbotecnomachonazifascismo exemplificam de forma contundente a concepção de fascismo adotada pela esquerda atualmente, assim como a maneira pela qual essa corrente intelectual percebe e interpreta a direita.
Para Márcia Tiburi, o fascismo é uma política de ódio:
“O fascismo é o código que visa a promover violência ao desencadear ações linguísticas e práticas em si mesmas violentas. Preconceito e intolerância de todos os tipos, bem como a declaração de morte ao outro, fazem parte de uma violência projetiva, que é administrada semiologicamente, ou seja, em nível imaginário e simbólico, para fins do poder. A violência codificada — misoginia, racismo, homofobia etc. — desencadeia mais violência com o objetivo de sua generalização.”
— Márcia Tiburi, Como Derrotar o Turbotecnomachonazifascismo
Essa explicação é propositalmente ambígua, pois define um inimigo facilmente combatível na sociedade universalista e progressista ocidental. Primeiro, associa-se como “fascista” tudo aquilo que o progressismo rejeita; em seguida, utiliza-se da influência cultural e midiática para imputar essa pecha de fascismo aos adversários políticos, neutralizando-os simbolicamente perante a opinião pública.
Marcia Tiburi, ao retomar e atualizar a “escala F” de Adorno, aproxima-a ainda mais do campo político contemporâneo. Em sua leitura, o “fascista em potencial”, na definição adorniana, constitui um tipo psicopolítico socialmente forjado, caracterizado pelo empobrecimento da linguagem, pela erosão da capacidade dialógica e pela negação sistemática da alteridade. Trata-se de uma personalidade encapsulada em certezas absolutas, que reduz o outro à condição de inimigo e se ancora em relações autoritárias, no ódio e no culto carismático ao líder.
Essa configuração, analisada originalmente em A Personalidade Autoritária, foi descrita por meio da chamada “escala F”, que identifica nove traços centrais: (1) o convencionalismo, apego rígido a valores tradicionais; (2) a submissão autoritária, obediência incondicional a figuras de autoridade; (3) a agressão autoritária, hostilidade contra quem não se submete; (4) a anti-intracepção, rejeição da subjetividade, das artes e da ciência; (5) a exaltação do poder e da dureza, valorizando força e dominação; (6) a superstição e estereotipia, crença em esquemas rígidos e fatalistas; (7) a destrutividade e o cinismo, prazer na aniquilação do outro, no uso da maledicência e da falsificação discursiva; (8) a projetividade, expressão de impulsos inconscientes deslocados; e (9) as preocupações exacerbadas com a sexualidade, revelando repressões e ansiedades latentes.
Na perspectiva adorniana, esses traços convergem para uma estrutura etnocêntrica e paranoica que, em momentos de crise social, pode transitar rapidamente do plano simbólico para a ação política concreta e violenta. Assim, o fascismo não se apresenta como anomalia histórica, mas como risco latente e recorrente, sempre reativado quando a democracia mostra-se incapaz de sustentar plenamente suas próprias promessas de abertura e universalidade.
Dessa forma a esquerda pode imputar a direita mais liberal e seus movimentos tão identitários e progressistas quanto os da esquerda a pecha fascista. e até um conservador moderado como Charles Kirk pode ser retratado como de "Extrema-Direita"
E tendo esse inimigo histórico do progressismo ocidental agora revivido é necessário derrota-lo antes que ele nos conduza a calamidade publica e aos campos de concentração.
E como os Aliados derrotaram o fascismo? A esquerda vive dizendo que não pregam violência (cada vez mais isso parece estar desaparecendo) mas continuam a usar essa narrativa taxativa nos seus inimigos, ora como a esquerda acredita que os fascistas foram derrotados pelos aliados? Roosvelt não enviou rosas para Hitler e stalin não recitou nenhum coro performático com Antifas mostrando os seios em Berlim. Os Partisans não escreveram nenhuma carta em nome da democracia pra Mussolini, Mussolini e Petacci foram levados para a localidade de Giulino di Mezzegra, onde foram fuzilados.
No dia seguinte, os corpos de Mussolini, Petacci, e outros líderes fascistas foram levados para Milão. Lá, em um ato simbólico de humilhação pública, seus cadáveres foram pendurados de cabeça para baixo em uma estrutura metálica de um posto de gasolina na Piazza Loreto.
tudo isso pode ser evidenciado pelo simples fato de que o assassino de kirk um Antifa convicto escreveu nas munições sarcasticamente "ei, pega essa Fascista"
A esquerda não esconde seu ódio pelos conservadores. Tornou-se recorrente observar influenciadores alinhados ao progressismo atacando personalidades da direita e, em muitos casos, manifestando o desejo de um regime de esquerda repressivo contra aquilo que chamam de “força reacionária” representada pelo conservadorismo. Um exemplo emblemático é o tweet de Destiny (@TheOminiLiberal), notório influenciador democrata americano, no qual chega a justificar o atentado contra Trump e, inclusive, contra seus apoiadores.

Vocês se lembram de quando Mauro Iasi, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), ao citar o dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht em seu poema "Perguntas a um homem bom" (Verhör des Guten), escrito em 1953, disse que, para os conservadores que são boas pessoas, haveria um bom perdão, que os colocaria diante de uma boa bala e de uma boa cova? E que, com a direita e o conservadorismo, não há nenhum diálogo, apenas luta enqunto era ovacionado pela plateia?
Como esperar que a recepção desse discurso, por parte das alas mais ideologizadas da esquerda, seja outro senão a da mais absoluta intransigência, culminando em atos de violência e no recurso às vias de fato? Trata-se da lógica do terrorismo estocástico: quando se normaliza a ideia de que toda agressão contra o inimigo político é legítima estendendo-se inclusive a seus simpatizantes, sob o argumento de que “quem se senta com um nazista também o é”, cria-se um ambiente em que a violência se torna moralmente justificada mesmo sem incitação explícita. O resultado inevitável de tal dinâmica não é senão a degradação da convivência civil e a irrupção da calamidade pública.
A Morte da direita moderada
Não demorou muito para que diversas vozes, sobretudo oriundas da própria direita, proclamassem a morte do último conservador moderado. A execução de Charlie Kirk foi interpretada por muitos como o estopim para a radicalização de um campo político que, até então, ainda preservava resquícios de contenção institucional. À primeira vista, tal diagnóstico pode soar como um blefe retórico. No entanto, uma análise mais detida, amparada por contribuições da ciência política contemporânea, sugere que momentos de violência dirigida contra lideranças funcionam historicamente como gatilhos de mobilização radical.
Autores como Samuel Huntington já haviam observado, em Political Order in Changing Societies, que a instabilidade e a violência política tendem a emergir quando instituições frágeis não conseguem absorver as demandas de participação e identidade. O assassinato de uma figura simbólica, como Kirk, não apenas desestabiliza lideranças, mas pode também abrir espaço para discursos que reivindicam legitimidade em nome da “defesa existencial” do grupo, um fenômeno que Roger Eatwell e Matthew Goodwin, em National Populism, descrevem como a “política do medo e da ameaça”.
Na esfera das correntes underground e das margens da alt-right, esse processo é ainda mais evidente. Pensadores como Julius Evola e, em termos mais recentes, ideólogos digitais ligados a fóruns e comunidades virtuais, veem na violência contra lideranças conservadoras a confirmação de que a direita “moderada” é incapaz de proteger seus próprios símbolos. Esse raciocínio, descrito por Mark Lilla ao tratar do “fim da moderação” no debate político, conduz facilmente a uma lógica binária: ou a direita se radicaliza em autodefesa, ou será gradualmente eliminada pelo avanço progressista.
Do ponto de vista psicológico-político, Cass Sunstein, em seus estudos sobre group polarization, mostra que comunidades ideológicas, quando submetidas a choques externos, tendem a adotar posições cada vez mais extremas como forma de coesão interna. A morte de Kirk, nesse sentido, pode ser interpretada como um catalisador simbólico que empurra setores antes moderados da direita a aderirem à retórica intransigente da alt-right, legitimando práticas discursivas que, até então, permaneciam à margem.
a violência contra lideranças moderadas não apenas fragiliza o centro, mas frequentemente alimenta o extremo. Quando a moderação é assassinada, abre-se caminho para que a radicalização deixe de ser exceção e passe a se apresentar como imperativo.


